Brasil - Diferença entre Geração Distribuída e Geração Centralizada

22/05/2024

Geração centralizada e geração distribuída de energia elétrica, quais as diferenças?

A geração, transmissão e distribuição de energia elétrica são estratégicas para um país. A eletricidade é fundamental para a prosperidade social e abastece desde a geladeira de uma residência até o maquinário completo de uma indústria.

Por isso, governos locais e nacionais têm um grande interesse em garantir acesso e disponibilidade da energia elétrica para todos.

Até relativamente pouco tempo, para suprir uma demanda tão grande de energia, era preciso projetar grandes investimentos. Para as grandes empresas e órgãos públicos, o custo- benefício de usinas hidrelétricas de grande porte como Tucuruí, Itaipu e Itumbiara era mais vantajoso e seguro. Em outros países, sem o potencial hidrelétrico do Brasil, os desafios eram ainda maiores.

Como funciona a geração centralizada de energia?

Em linhas gerais, no modelo de geração centralizada, poucas unidades geradoras produzem eletricidade para muitas pessoas. A energia é levada por cabos de transmissão maiores, mais altos e com alta tensão, até as redes de distribuição, que são os cabos de energia no poste.

A energia que é distribuída pelas concessionárias e chega aos interruptores de casas, lojas, clínicas e outros estabelecimentos é produzida assim.

Vantagens e desvantagens

A grande vantagem da geração centralizada é a otimização de custos na geração e simplicidade de gestão administrativa.

Já as desvantagens são:

  • custos e perdas de energia na transmissão;
  • impacto ambiental e social das grandes usinas;
  • risco maior de indisponibilidade em caso de falha de uma unidade geradora.

Apesar disso, por muitos anos a geração centralizada foi considerada mais eficaz e ainda hoje é o modelo predominante no Brasil e em boa parte do mundo.

Essa visão começou a mudar com a chegada de outras fontes renováveis, como a solar, o barateamento e a acessibilidade de alguns equipamentos e as lições aprendidas em crises como blecautes e o apagão de 2001.

Como funciona a geração distribuída de energia?

A geração distribuída de energia, também chamada de GD, é um modelo em que várias unidades geradoras de menor porte abastecem a rede. Normalmente, elas se conectam diretamente às linhas de distribuição.

A ideia de pequenas unidades geradoras abastecendo clientes locais e minimizando custos com a transmissão não é exatamente uma novidade. A Usina de Marmelos, em Juiz de Fora, Minas Gerais, foi inaugurada em 1889 para abastecer indústrias têxteis e a iluminação pública da cidade.

Após diversas atualizações, continua operando e oferece a potência instalada de 4,8 MW. A hidrelétrica é considerada a primeira da América Latina.

A diferença é que, quando foi concebida, a Usina de Marmelos abastecia um pequeno sistema fechado local, o que faz com que ela seja, de certa forma, parte de um sistema de geração centralizada.

Hoje ela é considerada uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) e, por estar ligada ao Sistema Interligado Nacional de energia, é um exemplo de geração distribuída.

Além de Marmelos, existem inúmeras outras PCHs e Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH) pelo país. Com impacto ambiental menor que o de grandes usinas, elas são consideradas peças-chave na geração distribuída.

Mas, sem dúvida alguma, o que está transformando o cenário de GD nos últimos anos é a popularização da energia fotovoltaica. Hoje, qualquer telhado que receba uma quantidade razoável de luz solar ao longo do dia pode ser uma micro usina de geração de energia conectada à rede.

Com apenas alguns painéis solares e um kit formado por poucos elementos, é possível gerar energia ao longo do dia e injetar o excedente na rede, gerando créditos para pagar o consumo durante a noite.

Para pessoas e empresas, a GD da energia solar fotovoltaica é vantajosa porque pode reduzir ou até zerar o gasto com energia. Para a sociedade, a GD é estratégica, pois diversifica a matriz energética no país, minimiza o impacto ambiental das grandes usinas e reduz a sobrecarga nas redes de transmissão.

Agora que você já sabe qual a diferença entre geração centralizada e geração distribuída de energia, vamos entender um pouco mais sobre a regulamentação. 

Quais as regras de geração distribuída na Aneel?

A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) disponibiliza normas para geração distribuída que precisam ser seguidas por todas as concessionárias — ou seja, todas as empresas que distribuem energia para o público geral no Brasil. Essas regras são atualizadas periodicamente e podem ser conferidas no site da agência.

Segundo a Aneel, qualquer fonte de energia renovável é permitida na GD, como a hidrelétrica, eólica e, claro, solar. Quem conta com um sistema com capacidade instalada de até 75 KW é considerado um microgerador, enquanto os sistemas com potência entre 75 KW e 5 MW conectados na rede de distribuição são minigeradores.

Existem diferenças nas regras de mini e microgeração, mas no geral, ambos podem consumir o que produzem e injetar energia excedente na rede em troca de créditos. Esses créditos não são revertidos em dinheiro, mas podem servir para abater o consumo da unidade e de outras unidades de mesma titularidade na área de concessão.

Portanto, quem gera energia solar a partir de painéis fotovoltaicos no telhado de casa pode, por exemplo, injetar a energia que sobra durante o dia na rede e com isso conseguir créditos para custear seu consumo de noite, quando a geração de energia solar é nula.

Além disso, esse mesmo minigerador pode usar créditos para pagar parte de faturas de outras unidades. Quem gera energia no sítio, por exemplo, pode abater sua conta de luz na cidade, desde que ambas sejam da mesma concessionária de energia.

Um detalhe importante: mesmo que existam créditos para zerar a fatura, quem está conectado em grupos de baixa tensão ainda precisa pagar o custo de disponibilidade. Já os consumidores em média tensão, como muitas indústrias, continuam pagando a parcela de demanda contratada para a distribuidora, mas podem zerar a parcela referente ao consumo com os créditos obtidos.

Existe geração centralizada de energia solar?

A energia solar obtida em painéis fotovoltaicos é excelente para a GD, mas a sua modularidade, baixo impacto ambiental e efetividade faz com que ela também seja utilizada em grandes usinas. Portanto, existe sim geração centralizada de energia solar e, ao que tudo indica, ela deve aumentar nos próximos anos.

Hoje já são várias grandes usinas solares no Brasil e, ainda que nenhuma delas tenha uma potência instalada comparável à das maiores hidrelétricas, elas já produzem muita eletricidade.

A usina de Pirapora, por exemplo, tem capacidade total de 321 MW e já foi a maior usina solar da América Latina. Recentemente foi superada pela Usina de São Gonçalo do Gurguéia, no Piauí, com capacidade de 475 MW e uma previsão de aumento significativo da geração com expansões previstas para os próximos anos.

A energia solar centralizada não ameaça nem concorre com a geração distribuída. Na prática, os dois coexistem e se complementam, com a geração centralizada beneficiando, especialmente, os locais em que não é possível gerar localmente.

Quais as vantagens da geração fotovoltaica distribuída?

A modularidade, o custo e simplicidade de instalação fazem com que a geração fotovoltaica sirva muito bem aos propósitos da GD. Diferente da hidrelétrica ou eólica, a energia fotovoltaica é facilmente instalada em qualquer região do Brasil e em sistemas de tamanhos bem variados.

No estado atual da tecnologia, a geração fotovoltaica distribuída não só é possível como é um excelente negócio. Um micro ou mini gerador pode praticamente zerar sua conta de luz com a concessionária, produzindo energia limpa e segura em espaços tão pequenos como o telhado de sua casa ou a cobertura de um estacionamento.

Já quem tem um espaço um pouco maior, como um sítio ou fazenda, pode investir ainda mais e reduzir não só a sua conta de energia como a de outras pessoas que estejam na área de cobertura da mesma concessionária.

Produtores rurais podem, inclusive, zerar suas despesas com energia elétrica produzindo localmente, tanto conectados à rede quanto em um esquema off-grid.

Por fim, empresas e indústrias também podem se beneficiar da geração fotovoltaica distribuída para abater parte dos seus custos, até mesmo quem já tem descontos expressivos comprando no mercado livre de energia.



Citado por SolarEnergia Brasil